John McAfee: Experimentos de Soberania


Se você é tão velho quanto eu, já deve ter ouvido falar do McAfee Antivírus. Bom é sobre seu criador que pretendo falar John McAfee, e para o fazê-lo sou obrigado a recorrer as informações do documentário John McAfee: Gênio, Polêmico e Fugitivo.

Vivemos nós dentro de um círculo mágico e sob linhas imaginárias que nos obrigam a observar determinadas regras que vão muito além do decálogo, além de quê, dentro desse círculo mágico nosso patrimônio é constantemente minado. Estou falando do Estado Nação. Há ideologias políticas que tentam abordar um problema desde uma maneira positiva, passam a prestar uma espécie de culto a essa maquinaria burocrática, outros preferem destacar seus efeitos negativos, a estas últimas se costuma chamar de liberalismo. O termo é impreciso e confuso, mas fazer o quê? Escolheram esse nome para criança. Dentro do espectro liberal existe uma forma mais interessante e radical a que chamam libertarianismo.

McAfee não começou libertário, como a primeira geração do vale do silício no início fora influenciado por aquela subcultura hiponga, tanto que após fazer fortuna com a tecnologia tornou-se instrutor de yoga, um missionário dessa ginástica hindu. Não sei se foi crise de meia idade, mas posteriormente ele larga essa bobagem e começa a se envolver com ideias libertárias e formas norte-americanas de hedonismo boomer: armas, bebidas e prostitutas. 

Vamos dar um tempo detalhes dessa vida degenerada para interessa nesse post: O Indivíduo Soberano; esse é o título de um dos livros mais interessantes e desconhecidos da literatura libertária, tanto que o mesmo não foi traduzido para o português, uma das ideias centrais da obra é que os indivíduos vão paulatinamente reclamar sua soberania e se libertar das amarras do Estado Nação.

Depois de matar seu vizinho em vingança pelo mesmo ter atirado em seus cães – ao menos é o que sugere o documentário – McAffee inicia uma empolgante fuga afim de escapar da justiça. No fim não funciona ele acaba preso, mas deve ter gostado da emoção. Depois de ser solto e de disputar a corrida presidencial nos EUA, o bilionário passa a viver em seu iate, em águas internacionais, afim de fugir dos imposto, acompanhado de sua esposa – uma ex-prostituta que tentou matá-lo no passado – e uma escolta de mercenários armados recrutados em alguma ilha do Caribe, usando criptomoedas - Bitcoin e Monero - para suas operações financeiras.

Temos um sujeito em alto mar, não submetido a constituições ou a legislações nacionais, movimentado fortunas, abosutamente livre do controle estatal. Seu navio é o seu castelo, seu feudo: lá dentro vigoram suas próprias leis. A imagem lembra um pouco a absoluta soberania do Patriarca Abraão enquanto vagava com os seus pela terra de Canaã. Tal nível de soberania, tal blasfêmia ao Estado Nação, não seria tolerada por esse mundo de constituições e linhas imaginárias, de forma que quando parou na Espanha para ir ao mercado, McAffee foi preso e suicidado na prisão.

O documentário nos fornece todas essas informações, contudo é construído de forma a denegrir a imagem de McAffee, transformando-o num louco assassino parricida. Ainda que a vida do sujeito não seja nenhum exemplo de virtude, seu arco final, esse experimento de soberania, a libertação do indivíduo das amarras do Estado Nação é algo inspirador. Quiçá possamos ter experimentos semelhantes no futuro, de forma a pavimentar o caminho para um mundo, não digo melhor, mas diferente do filler do pós-guerra.

About Edmundo_Noir

Sommelier de anime, profeta do IApocalipse, missionário do chá e webteólogo. Pedalando entre ruínas.

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