Mate: a erva dos jesuítas e a waifu guarani


Segundo antigas lendas, a caça começava a se tornar escassa nos arredores de determinada aldeia, também as ervas e frutos não mais nasciam em abundância como outrora. Devia a tribo migrar uma vez mais. Contudo, um velho índio não tinha mais forças para tal: - que o povo seguisse adiante! -  ele ficaria. Estava cansado demais para mais uma outra viagem senão aquela para o mundo dos mortos. Yari, sua filha mais velha, decide ficar junto do pai, afim de auxília-lo em seus úlimos dias. Um velho e uma mulher, fadados a morte, vivendo seus últimos dias longe da tribo. Algum tempo depois um viajante chega àquela morada, o velho índio e sua filha lhe ofereceram-lhe pousada. Foram hospitaleiros, dividiram sua comida, compartilharam suas histórias. O viajante se mostrou grato, revelou ser um servo de Deus que, recompensaria o velho com um valioso presente! 

[Que presente seria esse? Fosse uma lenda egípica talvez alguma joia ou artefato mágico, no caso de uma lenda japonesa quem sabe o velho homem não recebesse uma poderosa espada, mas é uma lenda latino-americana, de povos que não dominaram a metalurgia, assim nosso herói recebeu algumas folhinhas.]

Voltando a história, o pobre velho recebeu galhos e folhas de um estranho arbusto, cuja infusão lhe daria uma vez mais as forças da juventude. Quanto a moça, por sua lealdade a seu pai receberia o dom da imortalidade, fora transformada em uma deusa-árvore ou algo do gênero[1]. Essa é a história da Erva-mate (Ilex paraguariensis), também conhecida outrora como a erva dos jesuítas: isto porque os padres da companhia teriam ajudado a difundi-la tal qual fizeram com  Evangelho. Todavia,  não foi uma história "amor à primeira vista", de início, mais precisamente no século XVI, o Mate era mal visto, e recebeu a alcunha de "erva do diabo", como se pode observar nos relatos do jesuíta Francisco Jarque:
Nos arrabaldes do povo de Maracayú se beneficia a erva, tão usual em todas aquelas províncias do Peru, que não há casas de espanhóis nem ranchos de índios em que ela não seja pão cotidiano e bebida. E se tem espalhado tanto este asqueroso sumo que tem chegado à corte e muitas cidades da América e da Europa seu conhecimento, uso e consumo. Em meu parecer, o demônio, por meio de algum feiticeiro, a inventou. 
No século XVII, porém, seu consumo foi incentivado pelos mesmos jesuítas como uma alternativa afim de afastar os índios do consumo de bebidas alcoólicas.

No Sul do país há toda uma tradição folclórica e aparatos próprios para o consumo da mesma, mas eu não sou um sulista e particularmente não sou um entusiasta desta estética. De todo modo, uma  coisa deve ser dita afim de calar murmurantes e impugnar objetores: chá mate é bom. O sabor amargo da erva casa bem com a brutalidade desra selva tropical. Isto é, se o sujeito não cometer o disparate de adoçar em demasia. Gosto de tomar o mesmo gelado.

Diferente da lenda, o chá mate não devolve aos velhos a força da juventude, mas tem algum efeito estimulante, combate o cansaço, melhora a concentração, ajuda na queima de gordura, auxília na recuperação muscular após o exercício físico e fortalece o sistema iminulógico[2]. E quanto a moças virarem plantas, isso só reforça minha teoria de que chás são preparados a partir de waifus

About Edmundo_Noir

Sommelier de anime, profeta do IApocalipse, missionário do chá e webteólogo. Pedalando entre ruínas.

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